A bicicleta como meio de transporte

Ciclistas relatam dificuldades para pedalar nas ruas de Ilhéus e Itabuna

 

Por Jonathan Souza

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Em Ilhéus, Itabuna e em outras cidades do Brasil, a bicicleta tem se tornado a aliada de muitas pessoas para vencer o trânsito e se exercitar (Foto: Alberto Rangel).

Não poluente e de baixo custo, a bicicleta, quando inserida na matriz de transportes de uma cidade, tem um grande impacto na redução de gases de efeito estufa e na melhoria da saúde e da qualidade de vida da população. Seja para o lazer ou em deslocamentos para casa, trabalho, escola e faculdade, a bicicleta tem se tornado uma aliada para escapar dos congestionamentos e se exercitar. Porém, ainda falta muito para melhorar as condições cicloviárias do país e incentivar novas pessoas a pedalarem sem medo.

Em Ilhéus, nos últimos anos, quase nada mudou nesse quesito. Na cidade, só existe apenas um pequeno trecho de ciclofaixa no acostamento da Rodovia Jorge Amado, entre o bairro Morada do Porto e o Banco da Vitória. Porém, a via exclusiva está tomada pelo mato e problemas na sinalização tornam a passagem insegura.

Na verdade, na maior parte das ruas e avenidas de Ilhéus, os ciclistas precisam dividir espaço com os outros veículos. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) garante ao condutor da bicicleta o direito de trafegar nas laterais da pista comum, sendo que os meios de transporte automotores precisam manter uma distância de 1,5m do ciclista. No entanto, segundo Cleviton Bernardino, muitos motoristas não respeitam a distância segura e acabam, na maioria das vezes, pressionando os ciclistas contra a calçada.

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Cleviton Bernardino pedala de casa, no Nelson Costa, para a Uesc, onde ele estuda (Foto: Alberto Rangel).

Cleviton é ciclista, tem 22 anos e mora em Ilhéus. Ele usa a bicicleta para se deslocar de casa, no bairro Nelson Costa, para o Centro, o bairro Conquista, a Avenida Esperança e a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), onde ele estuda.

“Eu prefiro a bicicleta pela questão de os ônibus sempre atrasarem, a questão dos próprios ônibus estarem sucateados, o que não permite um certo conforto. Então, eu prefiro estar de bicicleta que, além de estar mais solto, mais livre, eu tenho agilidade para chegar no destino. E fora que é uma questão de saúde também, porque além de estar fazendo esse deslocamento para o local onde eu vou, isso está fazendo bem para mim, porque eu acabo fazendo exercício, como também ajuda a própria natureza”.

Segundo Cleviton, muitas pessoas deixam de pedalar por conta do trânsito caótico da cidade e pela insegurança de andar na mesma via dos carros. Ele acredita que a situação poderia mudar se a prefeitura investisse na criação de ciclovias e ciclofaixas, seguido de campanhas de conscientização dos motoristas para que eles respeitem o espaço do ciclista. “Por Ilhéus ser uma cidade turística, o ciclismo seria um novo atrativo. Tanto o turista, quanto o morador, poderia pedalar de forma segura, aproveitando a bela paisagem”.

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Ausência de ciclovias e ciclofaixas dificultam a pedalada em Ilhéus (Foto: Jonathan Souza).

Questionado se a prefeitura desenvolve atualmente algum projeto para a implantação de ciclovias e ciclofaixas na cidade, o Vice Prefeito e Secretário de Desenvolvimento Sustentável, José Nazal, respondeu que “só existe um projeto no momento em nova licitação para continuidade da urbanização da Orla Sul (Avenida Tancredo Neves) que prevê o trecho com ciclovia, já integrada à urbanização da nova ponte, que também terá ciclofaixa”.

Nazal disse ainda que a prefeitura recebeu um projeto básico de um grupo de arquitetos do Instituto de Urbanismo Colaborativo para a implantação de 3 km de ciclovias. Porém, segundo ele, ainda é necessário elaborar o Plano de Mobilidade Urbana para estabelecer quais investimentos são necessários e quais os seus custos.

Ciclovias e ciclofaixas de Itabuna não são eficientes

Em Itabuna, a situação é um pouco diferente. Nos últimos anos, houve investimentos na implantação de ciclovias e ciclofaixas, principalmente no Centro e na Avenida Princesa Isabel, que dá acesso ao bairro São Caetano. Mas, segundo o ciclista Lucas Souza, elas possuem problemas que as tornam, muitas vezes, ineficientes. “A iniciativa foi boa, mas não teve planejamento. Primeiro, as ciclofaixas já estão velhas, não são respeitadas. Motoristas estacionam nas ciclofaixas, a gente acaba perdendo as ciclofaixas, porque na hora que a gente está passando, no meio do caminho, a gente precisa sair da ciclofaixa e ir pela rua, porque tem motorista estacionado”.

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Lucas Souza trocou o ônibus pela bicicleta para chegar mais rápido ao trabalho (Foto: Alberto Rangel).

Lucas tem 23 anos e é social media em uma empresa de publicidade de Itabuna. Ele resolveu adotar a bicicleta como meio de transporte para evitar os constantes atrasos na chegada ao trabalho. “Não era porque eu estava acordando atrasado, era porque os ônibus não tinham horário de passar e eu perdia quase uma hora no caminho que era de casa para o trabalho. E outra, você entrava no ônibus e via o ônibus lotado, nunca sentava, ou seja, tirava do bolso para ficar ali, num ônibus extremamente lotado que, muitas das vezes, pelo horário do pico, eu ia na porta do ônibus”. Ele mora no bairro de Fátima e trabalha no São Caetano.

Lucas fala que o fato de existirem ciclovias e ciclofaixas no trajeto também contribuiu para a escolha da bicicleta, porque, segundo ele, o deslocamento se tornaria mais seguro. Porém, o ciclista destaca que o trecho de ciclovia da Avenida Princesa Isabel, onde a via dos ciclistas é separada da pista comum, “é inusável”.

“Não é bem cuidada e as pessoas não se conscientizam que ali é uma ciclovia. Tem o lado do pedestre passar, eles não passam e acabam passando na ciclovia. Acaba sendo perigoso para a gente, porque, se a gente passar em alta velocidade, acaba provocando um acidente. Eu já tive um acidente dentro da ciclovia, não com pedestre, mas no meio dessa ciclovia passa uma via de carros e eles passam sem parar para o ciclista. E desde esse acidente eu já não uso mais essa ciclovia. Eu me sinto muito mais seguro indo pelo acostamento da estrada”.

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Sinalização horizontal da ciclofaixa da Avenida Beira Rio está desaparecendo (Foto: Jonathan Souza).
Lucas destaca que, para que haja uma boa convivência no trânsito, é necessário que os ciclistas também respeitem os motoristas e pedestres, colocando-se cada um em seu espaço. “Muitas das vezes, acaba que o motorista tem uma visão negativa com o ciclista, porque nem sempre são ciclistas, são, digamos que os ‘bicicleteiros’. Eles acabam querendo andar no meio da pista [entre os carros] e, com isso, a gente acaba perdendo a credibilidade com os motoristas. Então, como que a gente pode ganhar esse respeito, sempre andando com capacete, iluminação, sinalizado ou uniformizado, mostrando que somos ciclistas urbanos”.

Até o fechamento dessa matéria, não conseguimos entrar em contato com o Secretário de Transporte e Trânsito de Itabuna para falar sobre a situação das ciclovias da cidade.

‘Bike Anjo’: treinando o ciclista para o ambiente urbano

Pensando em fortalecer os laços de amizade entre os ciclistas e incentivar novas pessoas a pedalarem, Cleviton pretende trazer a experiência do projeto “Bike Anjo” para Ilhéus. O projeto que já é referência em várias capitais do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, funciona como uma ‘auto-escola para ciclistas’. “É um projeto que tem as funções de ensinar as pessoas que não sabem pedalar, por isso tem o nome de Anjo, que é auxílio; ajudar os que já são ciclistas a ter convivência com outros ciclistas e ajudar também na própria conscientização da cidade, porque, com mais ciclistas, a cidade vai ter menos trânsito, vai estar menos poluída”.

Cleviton explica de que forma o projeto “Bike Anjo” funciona. “Através do site bikeanjo.org, você pode se inscrever como anjo ou como iniciante e, por meio de um mapa, você pode encontrar ciclistas próximos a você que possam lhe ajudar. Por exemplo, eu quero fazer um trajeto de Ilhéus a Itabuna, eu posso estar consultando no mapa onde tem ciclistas que façam o mesmo percurso e que estejam dispostos a me auxiliar nessa pedalada, mandando uma mensagem pelo próprio site para outro ciclista que esteja cadastrado. O ciclista vai olhar e, se for viável, ele vai estar me conduzindo nesse percurso”.

Segundo ele, para que a iniciativa saia do papel, é necessário que haja apenas o engajamento dos próprios ciclistas e da população, entendendo que a ação é benéfica para todos, porque, à medida que o ciclista aprende a conviver com segurança e respeito no trânsito, outras pessoas se sentirão atraídas a andar de bicicleta, o que pode impactar positivamente na melhoria da mobilidade urbana e da qualidade de vida das pessoas. Ele acredita que o “Bike Anjo” pode colaborar também na criação de laços de fraternidade entre as pessoas, pois, ao ter com quem pedalar, o ciclista se sentirá bem mais seguro e fará o seu trajeto de uma forma mais agradável.

“A intenção é formar um grupo para dar início a esse projeto. Já tem algumas pessoas envolvidas, mas, quanto mais gente, melhor. Então, quem tiver interesse em participar, pode me procurar no Facebook e entrar em contato comigo”.

E aí, aceita o desafio? Vamos sair do sedentarismo e começar a pedalar?

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